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Falácia ad hominem: o ataque pessoal como argumento

- 3 min leitura

Um argumento ad hominem ocorre quando uma ideia é posta em dúvida através de um ataque contra a pessoa que o defende. A expressão ad hominem vem do latim e quer dizer contra o homem.

Um exemplo comum desse argumento pode ser encontrado no debate sobre o aborto. Imagine o seguinte diálogo:

Marcos – Acredito que o aborto deveria ser proibido num feto com oito meses de gestação já que nesse período ele pode sentir dor.

Andreia – A sua opinião sobre o aborto não está correta, pois você é homem e não tem o direito de opinar sobre o assunto.

A Andreia poderia ter usado duas estratégias para criticar Marcos. Em primeiro lugar, poderia tentar mostrar que ele comete um erro em seu raciocínio ou que usa premissas falsas. Em segundo lugar, poderia atacá-lo lembrando características pessoais que tornam duvidoso seu argumento. Andreia optou pela última alternativa e, da forma como fez, cometeu uma falácia ad hominem.

O primeiro problema com esse tipo de argumento é que, ao invés de avaliar se a ideia é verdadeira ou não, se limita a atacar o caráter de seu autor. Isso é incorreto porque, na maior parte dos casos, características pessoais são irrelevantes para determinar se uma ideia é verdadeira ou falsa. A afirmação, por exemplo, de que o feto tem direito à vida não se torna mais ou menos verdadeira por ser defendida por pessoas de gêneros diferentes.

O segundo problema é que esse tipo de ataque procura silenciar a pessoa que está defendendo uma ideia, excluindo-a do debate. Ocorre que, quando estamos numa discussão, temos obrigação de explicar porque discordamos e não tentar silenciar aquele que pensa diferente.

Por fim, além de ser irrelevante para determinar o valor de verdade de uma ideia, um ataque pessoal pode ser problemático por desviar a atenção do que realmente importa.

Em campanhas políticas esse recurso é especialmente prejudicial e comum. Pois, se os candidatos se limitam a trocar ataques pessoais, o público fica sem conhecer suas propostas para solucionar os problemas da sociedade. O resultado pode ser a eleição de candidatos com um “bom caráter”, “cidadãos de bem” que não tem boas ideias para resolver questões que preocupam a população. Pior ainda, as propostas do candidato eleito podem até ser contrárias ao que a maioria pensa serem as políticas mais adequadas. Como se vê, a distração provocada pelas falácias ad hominem podem custar caro.

Tipos de falácias ad hominem

Ataques pessoais podem assumir quatro formas diferentes. Cada uma delas recebe um nome específico.

Falácia ad hominemDescriçãoExemplo
Ad hominem abusivoTrata-se de um ataque direto ao caráter da pessoa, com afirmações que põe em dúvida sua integridade.O que a testemunha está dizendo não merece atenção. Ela já traiu antigos companheiros e usa drogas.
Ad hominem circunstancialO ataque pessoal põe em dúvida uma afirmação alegando que a pessoa não faz o que defende.Responder “você também fuma” para o médico que afirma que você deveria parar de fumar para ter uma saúde melhor.
Ad hominem viés ou poço envenenadoO ataque pessoal põem em dúvida uma afirmação sugerindo que a pessoa defende porque tem alguma coisa a ganhar com isso.Responder “você só defende isso porque terá lucro” para alguém que defende os direitos dos animais e é dono de um restaurante vegetariano
Ad hominem tu quoqueQuando se responde a um ataque ad hominem dizendo que a pessoa faz o mesmo.Um político acusa o outro de corrupção. Como resposta, ele alega que seu adversário também cometeu corrupção.

Como reconhecer quando é uma falácia

Embora ataques pessoais sejam uma das falácias mais usadas, é necessário lembrar que nem sempre são argumentos inválidos. Alguns são legítimos e é importante saber reconhecê-los.

A principal questão que deve ser feita para identificar se um argumento ad hominem é relevante ou não é a seguinte:

No assunto que está sendo discutido, características pessoais fazem a diferença?

Suponha que o tema do debate seja se a Terra é plana ou esférica. Nesse caso, não é difícil perceber que, não importam as características pessoais dos debatedores, o formato da Terra é totalmente independente delas.

Por outro lado, o mesmo não pode ser dito se estivermos no tribunal tentando saber se uma testemunha é confiável ou não. Imagine que você faz parte do júri no caso de um assassinato. A acusação apresenta uma testemunha que diz ter visto o réu cometendo o crime. Já a defesa alega que a testemunha não é confiável, pois teve um conflito com o réu e mentiu no passado. Embora esse argumento seja claramente um ad hominem, ele é perfeitamente aceitável. Nesse caso o ad hominem é relevante porque o tema da discussão é justamente o caráter de uma pessoa: se ela é confiável ou não.

Portanto, é necessária cautela diante de um argumento ad hominem. É um erro descartar qualquer argumento desse tipo como uma falácia.

Referência

WALTON, D. Lógica Informal: manual de argumentação crítica. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012.